Carne de caça, COVID-19 e segurança alimentar no município de Abaetetuba, Amazônia paraense

O presente trabalho é fruto de um estudo que teve por objetivo caracterizar o impacto da pandemia de COVID-19 no consumo da fauna silvestre e de seus subprodutos destinados à alimentação, analisando se os consumidores
associam a carne de caça ao contágio do novo coronavírus e, consequentemente, se acreditam que o consumo frequente de animais silvestres pode ameaçar a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) na cidade de Abaetetuba/PA. O período de campo foi entre setembro de 2019 e novembro de 2020, com alguns espaços de tempo entre as idas a Abaetetuba. O principal instrumento da metodologia empregado foi um questionário registrado via internet, de caráter anônimo e voluntário, direcionado a pessoas maiores de 18 anos. Como resultado da investigação, foram entrevistados (N=122) abaetetubenses com representatividade do núcleo urbano e da zona rural do município. Constatou-se que a feira livre da beira de Abaetetuba ainda representa um local de preservação das relações sociais e culturais, que fortalecem os laços afetivos e o saber local. O surgimento da pandemia da COVID-19 impactou, em certa medida, o consumo de animais silvestres. Com o baixo abastecimento de proteína
animal na feira e o encarecimento das carnes domésticas (gado, frango, porco), ocorreu um aumento no consumo de carne de caça, mesmo que o preço desta também tenha sido elevado no período pandêmico. A carne de caça tornou-se uma alternativa mais barata, mais saudável e de maior durabilidade (uma vez que é vendida em mantas salgadas). Os consumidores afirmaram não associar o contágio da COVID-19 ao consumo de carne de caça, bem como não acreditavam que o consumo frequente de animais silvestres pudesse ameaçar a SAN no município.